Título original: Restos do Vento
Com:
Albano Jerónimo
Nuno Lopes
Isabel Abreu
João Pedro Vaz
Gonçalo Waddington
Leonor Vasconcelos
com a participação especial de Maria João Pinho
Realização: Tiago Guedes
Argumento: Tiago Rodrigues e Tiago Guedes
Produzido por Paulo Branco
Director de fotografia: Mark Bliss ACK
Montagem: Marcos Castiel BFE
Directora de arte: Isabel Branco
Figurinos: Isabel Carmona
Director de som: Pierre Tucat
Montagem de som e mistura: Pedro Góis
Produtora Delegada: Mariana Marta Branco
Produtora Executiva: Ana Pinhão Moura
Uma produção
Leopardo Filmes e Alfama Films Production
Em co-produção com
ARTE France Cinéma
Rádio e Televisão de Portugal
APM Produções
Com a participação financeira de
Instituto do Cinema e do Audiovisual
Fundo de Apoio ao Turismo e ao Cinema
ARTE France
CMTV
Com o apoio
Câmara Municipal de Penamacor
Junta de Freguesia de Meimão
Festivais e prémios
Festival de Cannes 2022 – Selecção Oficial — Special Screenings
Ourense Film Festival – Prémio Calpurnia – Melhor Filme
Lucca Film Festival - Prémio Marcello Petrozziello
46ª Mostra de São Paulo
Nota do realizador
Desde sempre me questionei sobre as razões da violência entre as pessoas. Hoje mais do que nunca essa pergunta permanece sem respostas possíveis ou tangíveis. Vivemos numa sociedade que avança no tempo mas que não evolui, come-se a si própria, cada vez mais afastada da natureza a produzir em excesso apenas com o fim do lucro. Uma sociedade que se esquece daqueles que por uma razão ou outra ficam para trás, daqueles que não conseguem acompanhar, ou que escolhem não o fazer.
Este filme nasce da vontade de reflectir sobre a violência exercida pelos mais fortes sobre os mais fracos, essa ilusão de poder que nos inunda em todos os aspectos da sociedade. Reflectir sobre a perda da inocência, onde ocorre e por que razões.
E talvez a maior de todas as vontades fosse reflectir sobre o medo, e sobre como ele nos condiciona, como nos transforma e distorce a realidade.
O pano de fundo deste filme é o confronto entre a nobreza fundamental do ser humano e aquilo que chamamos de maldade humana, muitas vezes nascida do medo, daquilo que se estranha, desconhece ou ignora. Um confronto ancestral que a sociedade camufla, esconde, e que não tem a noção ou o conhecimento ou a cultura para o conseguir erradicar.
Daí nasceu a necessidade de reflectir sobre os rituais de passagem (aqui representado através de uma tradição semi-pagã ancestral), quase sempre ligados a manifestações violentas e misóginas que tentam de alguma forma simbolizar essa “separação” extrema onde se abandona um estatuto social para se adquirir um outro.
A necessidade de pertencer a um grupo, a vontade de ser aceite por aqueles que consideramos mais fortes, assim como a vontade e a necessidade de humilhar os mais fracos, são infelizmente traços ainda demasiado actuais e certas tradições, não apenas de rituais antigos, parecem querer legitimar a forma como os grupos exercem o seu poder e violência sobre os outros. Veja-se todo o tipo de praxes existentes nas mais diversas formas.
Uma comunidade que esconde os crimes do seu passado, que não os examina e não se retrata, será incapaz de prevenir as violências futuras. Viverá assombrada sempre. É a sombra que chega antes do corpo. É a antecipação do que poderá acontecer. Há culpados, vitimas e carrascos, mas não há justiça. Há medo. Um medo que muda as percepções e faz ver o mundo através da sua lente distorcida. Um medo do que é estranho e desconhecido e que promove a injustiça e a violência que caracterizam o nosso mundo. Não há moral, porque não há espaço para ela. Só há tragédia. E medo.
Tiago Guedes